segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Religião e magia na Idade Moderna no campo historiográfico (parte 1)


Religião e magia na Idade Moderna no campo historiográfico
Luciano Bezerra Agra Filho
lucianoagra@isbt.com.br
Licenciado em História - UEPB
Resumo:
O que vem a ser “magia”? O termo é abrangente, complexo e polissêmico. A fantasia e realidades se misturam nas práticas mágicas. A busca do conhecimento e a luta para se livrarem de uma estrutura opressiva que ameaçavam os seus costumes e tradições, levaram as camadas mais pobres, a produzirem práticas e devoções mágicas. Para estas pessoas e talvez para todo nós, a fantasia se transforma em realidade e a realidade em fantasia no quadro religioso do Ocidente Moderno.
Palavras Chave: Idade Moderna – Magia – Historiografia.

1. A Magia no seio da Igreja Medieval:
Inicialmente, é bom salientar que todas as religiões primitivas são consideradas pelos seus seguidores como meio, como um caminho pelo qual podem alcançar o poder sobrenatural. Essas religiões funcionavam como máquinas que continuam sistemas de explicações, fontes de imposições morais, semiologia de ordem social ou ponte para a imortalidade, significado, também, a perspectiva de um meio sobrenatural que controla o homem sobre a terra. Nesse grupo de religiões incluem-se os cristianismos.
Na época Medieval, a Igreja viu-se conturbada pela tradição de que a realização de milagres era o meio eficaz de monopolizar a verdade. Um pouco antes da Reforma, a Igreja não alegava ter o poder de realizar prodígios, ou seja, sua fé em Jesus. No entanto adquiria prestígio com os efeitos realizados por membros a quem Deus concedera dons de efetuar milagres. Atribui-se igualmente uma eficácia miraculosa às imagens. Os milagres e curas sobrenaturais eram manifestadas no seio da igreja nas vésperas da Reforma e conferiam-se esses milagres, são somente às imagens, mas também às relíquias sagradas, que eram consideradas fetiches milagrosos.
Adoravam os santos e os tinham como parte integrante da estrutura da sociedade medieval. Cada igreja possuía seu santo padroeiro e, às vezes, conferiam a hagiolatria um caráter quase totêmico. Cada santo era profissional em atender um determinado pedido.
Para cada ocasião havia um santo especial. Na dor, no parto, no olhado, nas tempestades, na escassez, na peste, etc... Cada santo era incumbido de atender de acordo com a ocasião.
Havia métodos para abençoar os doentes e tratar dos animais, para afastar o trovão e trazer a fecundidade ao leito matrimonial; o ritual básico era o benzimento com água e sal para a saúde do corpo e a expulsão de demônios.
Dessa forma, o seio da Igreja Católica estava cheio de talismãs, rosários e amuletos eclesiásticos usados para fins milagrosos, destinados a dar proteção numa ampla variedade de contextos. Com uma série de sub-superstições em torno do altar, até a missa passou a possuir um poder mágico e, como os demais sacramentos cristãos, gerou um conjunto de crenças parasitárias, atribuindo-se a cada cerimônia um significado material que os dirigentes da Igreja nunca haviam alegado. O batismo era fundamental para tornar o bebê um ser humano integral, membro da Igreja, possuidor da salvação, e que tivesse um crescimento melhor. Assim como os batismos, as mulheres, após parirem, davam graças a Deus e prestavam uma cerimônia tipo “purificação”.
As orações dos fiéis funcionavam como ponte que dava acesso ao auxílio divino e aos páramos celestiais. A oração assumiu diversas formas, mas o tipo mais diretamente relacionado com os problemas do cotidiano era o da intercessão, com o qual invocava-se a Deus tanto para orientar no caminho da salvação quanto para ajudar em dificuldades materiais. As orações mais constantes eram os pais-nossos, às ave-marias e os credos.
Assim, a Igreja Medieval contribuiu para distinguir uma prece de um encantamento, além de atribuir virtude na mera repetição de palavras sagradas.
De acordo com o que já vimos anteriormente podemos perceber que a Igreja Medieval como um grande reservatório de poder mágico, apto para ser empregado para uma série de finalidades seculares, como a leitura de um versículo para revelar o destino das pessoas, a leitura sistemática da Bíblia para garantir um bom parto à parturiente, e assim sucessivamente. A principal preocupação da Igreja era espiritual, dando ênfase à natureza primariamente intercessora dos rituais eclesiásticos como a precipitação de preces, adoração dos santos, o emprego de água+ benta e do sinal da cruz. Ressalte-se, ainda, que a consideravam esses rituais propiciatórios, não coercitivos.
Não obstante várias circunstâncias contribuíam para consolidar a idéia de que a Igreja era um agente mágico, além de devocional. O antigo culto às fontes, árvores e pedras não foi abolido, mas modificado, associando um santo a uma divindade pagã e incorporando as festas pagãs ao ano eclesiástico. O Ano Novo tornou-se a Festa da Circuncisão, a Festa da Primavera virou o dia de São Felipe e São Tiago, a Noite de Solstício de Verão passou a ser o Nascimento de São João Batista, o Lenho de Dezembro foi introduzindo na celebração do Nascimento de Cristo.
As práticas como a veneração da hóstia, das relíquias, a recitação de preces ou o uso de talismãs e amuletos podiam chegar a excessos, mas os teólogos não consideravam como problema, pois o efeito disso era unir mais o povo à verdadeira Igreja e ao verdadeiro Deus.
2. Cultura Popular, Magia e Sabá
A magia está vinculada à realidade da humanidade desde o pressuposto da civilização. Seria um meio pelo qual, o homem manifesta o desenvolvimento o desenvolvimento dos seus conhecimentos naturais e oculto, com o intuito de corresponder aos desafios de sua realidade.
Com o progresso moral, a magia dividiu-se em magia branca e maia negra. Sendo que a primeira, “é pública, orientada em função de grupo, socialmente aprovada”. Enquanto a segunda, “tende a ser secretas, ilegais, subversivas, socialmente condenadas”.
Segundo alguns estudiosos procura discutir a relevância do assunto, a gênese da magia está nas raízes da cultura popular. Já outros, opõem-se, essa posição, baseada na fragmentação e na insuficiência de argumentos nos documentos estudados. Mas, observa-se nos conceitos da magia, a penetração das características da cultura popular.
É nesse ponto que a cultura popular era muito apreciada até a Idade Moderna por todas as classes sociais. Cabe ressaltar, porque naquele período poucas pessoas tinham acesso ao conhecimento científico e também era uma forma de opor-se ao regime vigente.
Apresentava grandes distinções, devido a descentralização territorial que conseqüentemente provocava a divergência da prática da cultura do campo e da cidade. O poderio econômico acentuava essa situação quando, um camponês não tinha condições financeiras de realizar o mesmo costume do nobre, de aristocrata ou burguês.

É importante chamar atenção para o fato de que o desejo da Igreja Católica era manter o seu domínio ideológico sobre todas as classes sociais, e afastar o fortalecimento de outras religiões, lançam a proposta de condenar uma “cultura unitária”, com o mesmo fim para toda a sociedade. Isto significa dizer que os intelectuais também apresentavam interesse em reformular a cultura popular e queria expandir totalmente o conhecimento intelectual.
É evidente que os reformadores protestantes, iam mais longe com seu plano de afastar a igreja católica do seu caminho. Mas neste caso, acusava-se da prática de magia a fim de desvalorizar o poderio ideológico do cristianismo. De toda forma a Inquisição, foi lançada pela igreja católica e apoiada pelo Estado, levou a julgamento e condenou inúmeras pessoas sob a acusação de heresia, cisma, apostasia, magia e poligamia.
Mas o que é interessante neste fato para ser analisado, é que num período temido pelas normas da Inquisição; marcado pela modernização e transformação na Europa Ocidental, cresceu consideravelmente o uso de magia. Ocasionada pela falta de um conhecimento científico, como também pelas condições sub-humanas a que os povos estavam submetidos, era uma forma de opor-se ao processo de reformulação da religião e dos costumes, que estava sendo empreendido neste momento. Podemos perceber que é muito complexa e rica a cultura popular na Idade Moderna. Podemos exemplificar com a canção e a literatura popular, principalmente na Alemanha, onde a poesia e povo estavam associados na criação desses poemas.
Essa tradição oral estava mais enfatizada na obra dos irmãos Grimm e também Heder que tinham idéias iguais na forma de ver poesias e contos integrados com a natureza, e daí surgiram coletâneas e mais coletâneas de canções populares; como as famosas baladas russas surgindo coletâneas por toda a Europa como no caso as baladas suecas, dinarmaquesas, finlandesas, inglesas, espanholas, etc.
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