domingo, 25 de abril de 2010

E agora, Josef?

Com o fim da guerra, União Soviética estende tentáculos vermelhos no mundo e preocupa líderes ocidentais - Stalin deve esperar retirada das tropas dos EUA na Europa antes de agir - Milhões de refugiados sofrem com indefinições

Dois democratas, um ditador: Churchill e Truman com Stalin na Conferência de Potsdam

Se, por um lado, a rendição incondicional do Japão colocou um celebrado ponto final aos 6 anos de guerra que açoitaram o globo, por outro trouxe numerosas interrogações a respeito do futuro que aguarda as dezenas de nações envolvidas nos combates. E as maiores incógnitas orbitam sobre a União Soviética. A irrepreensível ofensiva do Exército Vermelho na Europa oriental, que posicionou a Mãe Rússia no Velho Continente, causa agora arrepios nas potências ocidentais, pelo temor de que o importuno Josef Stalin coopte Estados do Leste europeu para o comunismo. Como se não bastasse, o mandachuva do Kremlin também mete seu taludo bigode na China, terra estratégica para os interesses dos americanos no Pacífico. Esses dois cenários afunilam-se em uma mesma questão: tentará Stalin estender seu poderio na esteira da recém-finada refrega?

Não é segredo para ninguém que o "Homem de Aço" dos bolcheviques pretende arrebanhar mais adeptos para a causa vermelha. Entretanto, analistas internacionais acreditam que, ao menos no front europeu, o líder soviético não agirá de imediato. De acordo com fontes russas, Stalin deve esperar o retorno das tropas americanas para casa - o finado presidente Franklin Roosevelt indicara que essa retirada se estenderia por dois anos - para somente então colocar suas mangas de fora.

Já na Ásia, a tensão entre soviéticos e americanos é latente, em especial na China - que, com a queda nipônica, assume a posição de potência continental. Os russos apóiam o comunista Mao Tsé-Tung contra o nacionalista Chiang Kai-Shek, aliado de primeira hora dos ianques. O poder da China tende a aumentar na medida em que os Aliados pretendem neutralizar por completo o Japão, ocupando-o, desarmando-o e tratando-o como um inimigo potencialmente perigoso. A operação é importante porque os vitoriosos querem evitar que, a exemplo do que ocorreu com os alemães após a Grande Guerra, a derrota gere um renascimento do militarismo, incorporado na figura de Adolf Hitler. Na Coréia, onde apenas União Soviética e Japão têm tropas disponíveis para desarmar os rendidos nipônicos, a separação está clara: os vermelhos ocuparão o Norte e os americanos, o Sul.

Voltando para casa - Mas não é só no âmbito político que a paz está gerando tantas indefinições. Sem comida, sem moradia e sem pátria, milhões de refugiados estão ziguezagueando pela Europa. Alemães estão sendo expulsos da Silésia e da Polônia, enquanto os tedescos que fugiram dos bombardeios em suas cidades estão voltando para recuperar seus pertences em meio ao que sobrou de suas residências. Com medo da dominação comunista, habitantes de países do Leste europeu estão fugindo do Exército Vermelho. Judeus que heroicamente sobreviveram ao campos de concentração estão procurando portos a fim de embarcar para a Palestina.

Cinco milhões de prisioneiros de guerra russos e trabalhadores forçados também estão voltando para a casa, sem saber o que os espera. No total, estima-se que 20 milhões de pessoas estejam em trânsito no Velho Mundo. Estas são auxiliadas pela Administração das Nações Unidas para Assistência e Reabilitação (UNRRA, na sigla em inglês). Fundada em 1943 para acudir refugiados de nações perseguidas pelo Eixo e financiada primariamente pelos Estados Unidos, a agência tenta colocar ordem no caos deixado pela guerra. Terá, é certo, muito trabalho pela frente.

VEJA, Agosto de 1945

Revista Veja na História

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