domingo, 12 de dezembro de 2010

“O Negrinho do Pastoreio”: uma lenda do sul – “Filo” Londrina

Publicado em por Redação.

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Há humor, cores muitas, expressões regionalistas e, claro, interação com o público. No entanto, a reflexão sobre os direitos do ser humano é o principal trunfo do espetáculo “O Negrinho do Pastoreio” que a Oigalê Cooperativa de Artistas Teatrais, de Porto Alegre (RS), apresenta de quarta (dia 17) a sexta-feira (dia 19) no FILO.

A lenda gaúcha, disseminada no imaginário popular brasileiro, ganha praças de Londrina, habitat natural da trupe apontada como umas melhores no gênero teatro de rua. “Não é um espetáculo didático ou panfletário e nem se trata de um simples resgate”, avisa Hamilton Leite que, juntamente com Paulo Gaiger, adaptou a obra de Simões Lopes Neto, escrita em 1912. Leite manda mais um recado:: o personagem central não é tratado como mero “coitadinho”.

Pois bem, a história conta as agruras de um negro escravo punido severamente por perder uma corrida de cavalos em que seu senhor apostou muito dinheiro. O rapaz passa 40 dias e 40 noites sem comida e bebida e ainda tem que zelar pelo cavalo Baio. Numa certa noite, o animal foge assustado com cachorros do mato.

Desesperado, o escravo acende uma vela em intenção a Nossa Senhora de Aparecida, que o ajuda a encontrar o cavalo. O bicho novamente foge, desta vez por maldade pura do filho do estancieiro. Cruelmente judiado, o corpo do escravo é depositado sobre um formigueiro. Três dias depois, o patrão volta ao local e se depara com a imagem do Negrinho ao lado de Nossa Senhora e do cavalo Baio. Reza a lenda que o Negrinho do Pastoreio ajuda a encontrar algo perdido se alguém acender um toco de vela para ele.

Para levar a lenda gaúcha às ruas, a trupe do Oigalê cercou-se de máscaras, pernas de pau, figurino colorido, acrobacias e trilha sonora original executada ao vivo. Dito assim, pode parecer contrastante demais uma lenda de cortar o coração ser levada às ruas com tamanha euforia cênica. Hamilton Leite pontua, porém, que o espetáculo margeia o humor através da desconstrução de arquétipos gaúchos. “Nós humanizamos os personagens, diz ele”. A encenação tem 45 minutos.

“O Negrinho do Pastoreio” suscita emoções de todas as espécies. Nos 16 estados em que passou – totalizando cerca de 500 apresentações e público estimado de 100 mil espectadores -, os integrantes do Oigalê presenciaram de tudo um pouco: pessoas reverenciando Nossa Senhora e outras com os olhos cheios d´água pelo drama do personagem. A mais imponente manifestação incide na metáfora da opressão. “Todos estão sujeitos a isso”, afirma Hamilton Leite.

A estreia aconteceu em setembro de 2002 e completa a trilogia denominada pampiana iniciada com “Deus e o Diabo na Terra da Miséria” (de 1999 e apresentada dois anos depois no FILO) e “Mboitatá” (2001). Em 2002, as trilhas sonoras das montagens geraram um CD, disponíveis no site do grupo, que está comemorando dez anos de atividades.

Em uma década de existência, a Oigalê (saudação em “portunhol” próxima a “olá, tudo bem?”) desenvolveu muitos projetos subvencionados com recursos municipal e federal. Atualmente, a companhia ocupa uma ala desativada do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre onde são colocadas diversas atividades. Em seu repertório, a companhia mantém seis títulos.

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