quarta-feira, 11 de julho de 2012

Stalinista húngaro recrutou assassino de Trotski







A maioria dos livros de história relata que o espanhol Ramón del Rio Mercader foi recrutado pelo general russo Leonid Eitingon, amante de Caridad Mercader, mãe do ex-tenente dos republicanos na Guerra Civil Espanhola, para matar Liev Trotski, em agosto de 1940, no México. Sabe-se que o articulador do assassinato foi Lavrenti Béria, o chefão da polícia secreta. O historiador Dmitri Volkogonov relata, na biografia “Stálin — Triunfo e Tragédia (1939-1953)” , que, Trotski morto, Béria foi promovido a comissário geral de Segurança do Estado. Em “Stálin — O Czar Vermelho”, Simon Sebag Montefiore diz que Mercader era “agente de Béria”. Montefiore acrescenta: “O arquiinimigo [Trotski] pode ter minado a política externa de Stálin, mas sua morte realmente encerra o capítulo do Grande Terror. Stálin estava vingado”. 

No esplêndido “Doze Dias: A Revolução de 1956 — O Levante Húngaro Contra os Soviéticos” (Objetiva, tradução de Saulo Adriano, 423 páginas), o jornalista Victor Sebestyen acrescenta informações à extensa bibliografia sobre a morte de Trotski. O czar econômico da Hungria stalinista, Ernö Gerö, participou da conspiração para matar o intelectual russo. Note-se que dois grandes historiadores e biógrafos de Stálin, Dmitri Volkogonov e Simon Montefiore, nada dizem a respeito do envolvimento de Gerö. 

Relata Sebestyen: “Ele [Ernö Gerö] ingressou na KGB e, durante os anos 1930, foi agente da Internacional Comunista. Era um segredo revelado nos círculos de exilados em Moscou que fora Gerö quem fizera o papel de sargento recrutador de Ramón Mercader, o assassino de Trotski, para a causa stalinista. Gerö conquistou a reputação de impiedoso durante a Guerra Civil Espanhola. Ele era o chefe da KGB na Catalunha, sob o codinome Pedro, com a tarefa de reforçar a ortodoxia comunista entre os republicanos e de liquidar os rivais de esquerda e os anarquistas. Ele desempenhou seu trabalho meticulosamente e se tornou conhecido como ‘o açougueiro de Barcelona’”. Numa nota de rodapé, Sebestyen acrescenta: “Não existem provas concretas, mas é quase certo que ele tenha encorajado e auxiliado no assassinato de Andrés Nin, presidente da República Catalã, em 1937”. (Sebestyen prefere usar KGB, e explica que é para facilitar o entendimento, mas, na época, a polícia secreta soviética era chamada de NKVD.) Gerö é citado no livro “A Batalha Pela Espanha: A Guerra Civil Espanhola — 1936-1939”(Editora Record, 714 páginas), de Antony Beevor. “Nin foi morto por agentes de [Aleksander] Orlov” (chefão da NKVD na Espanha “russificada”). A informação de Sebestyen prova (melhor, confirma) que a conspiração stalinista para matar Trotski foi multinacional, embora, é claro, sob comando da União Soviética. 

Um dos capítulos mais interessantes do livro de Sebestyen é o dezesseis. Revela o momento exato em que o presidente americano, Dwight D. Eisenhower decidiu abandonar os dissidentes do Leste Europeu ao deus-dará. Eisenhower gostava de citar um documento do Comitê de Segurança Nacional: “‘A separação de qualquer um dos grandes satélites europeus [como a Hungria] do bloco soviético não parece viável no momento, exceto se feita com a aquiescência soviética ou pela guerra’. (...) O vice-presidente Richard Nixon foi ainda mais incisivo, ao sugerir que uma insurreição malsucedida em algum ponto do bloco oriental, sufocada pelos russos, ajudaria a América em termos de relações públicas: ‘Não seria de todo um mal, do ponto de vista dos interesses norte-americanos, se a mão de ferro soviética se voltasse com força novamente contra o próprio bloco soviético’”. 

Ressalve-se que o governo americano recebia informações imprecisas e mesmo incorretas sobre a situação real da resistência húngara. “As informações dos serviços de inteligência norte-americanos e ocidentais sobre a Hungria eram de uma pobreza lamentável”, conta Sebestyen. “Nem os espiões nem os diplomatas norte-americanos enviaram a Washington relatos precisos da pressão que se avolumava na Hungria. Quando os jornalistas que estavam no país previram uma mudança iminente, as agências de inteligência os tacharam de sensacionalistas. (...) Os ingleses não estavam muito mais bem informados”. 

Um apoio decisivo dos Estados Unidos ao governo de Imge Nagy teria fortalecido o socialismo com face humana e evitado a carnificina comandada pelos soviéticos? Possivelmente, mesmo sob Nikita Kruschev, não. Uma posição mais firme poderia ter evitado, pelo menos, medidas tão duras. Por fim, socialismo de face humana é uma fantasia intelectual. Se tem face humana, deixou de ser socialismo e caminhou para a democracia, que não é possível no regime socialista.

Revista Bula

Um comentário:

Casinha de cachorro disse...

Socialismo é uma das tantas utopias que o ser humano cultiva, e que jamais deveria se tornar realidade. O número incrível de assassinatos, morte por fome e doenças já deveria ter nos alertado sobre a selvageria que é viver sob um regime desses.

Alguns grupos fechados e cínicos (políticos) têm a ideia de tirar vantagem do regime, mas o incrível é a quantidade de pessoas que realmente acreditam nessa impostura, trabalham em prol dela e vivem em um mundo de fantasia, lutando, se martirizando e sofrendo pela implantação desse ideal.